Tudo o que Poderíamos Ter Sido

Porto Alegre, abril de 2016. Em meio aos dias tensos que sucederam à votação do impeachment, três jovens sem planos para o futuro – ou mesmo para o presente – se apaixonam e desapaixonam, enquanto flertam com outras tentações e procuram, sem muito esforço, entender se a manjada tríade sexo, drogas e rock-and-roll ainda é a única resposta para o vazio e a desesperança. Lola domina a noite da cidade como uma rainha, entornando toneladas de drinques enquanto digere uma paixonite por um cara que não lhe dá notícias. César tenta se adequar aos novos tempos, que ele não quer realmente compreender, pois deseja, no fundo, que tudo seja simples como antes. Júlia quer se reinventar, após se ver forçada a terminar um relacionamento por divergências políticas. “Tudo o que Poderíamos Ter Sido” é a fotografia de uma geração já nem tão jovem assim, cujo maior pesadelo é simplesmente amadurecer.
A escritora Clara Corleone, autora de “O homem infelizmente tem que acabar”, escreve na orelha do livro: o livro do zeka me lembrou alguns filmes do almodóvar, mais antigos, onde o sexo era sempre uma possibilidade. você olhava dois atores em cena e pensava “bem que esses dois podiam se agarrar” e, na cena seguinte, não é que eles se agarravam, mesmo? também me lembrou reinaldo moraes em grande forma – se reinaldo zanzasse pela querida e maltratada porto alegre, é claro. nos dois dias em que devorei o livro, também vislumbrei nos personagens um encontro geracional fictício, talvez de carona no delorean do lendário de volta para o futuro: de um lado, hank moody muitos anos mais novo e, do outro, o elenco de picardias estudantis dez anos mais velho, os dois correndo na mesma direção: quem chega no boteco primeiro? não importa. o que importa é que o livro é divertidíssimo, uma viagem acelerada e vertiginosa, de onde saímos com a sensação de uma tremenda ressaca e, paradoxalmente, com vontade de tomar um porre. em sua terceira publicação, o autor acerta em cheio – e ainda nos deixa com vontade de mais uma dose. um brinde! e escreva mais, zeka. escreva sempre!