Review: "Ruas de Salvador"

Ruas de Salvador nos apresenta uma historia da qual se desprendem profusamente outras. O narrador personagem sente efusivamente a necessidade de expressar o que acontece na vida de seus amigos e dessa bela cidade onde nem tudo é cor rosa. Uma tensão política paira sobre Salvador e todo o Brasil, afetando com sanha os espíritos das pessoas. O centro da atenção é o sueco Lazaro, um homem de oitenta anos que percorreu o mundo como cineasta de documentários e, pelo destino da vida terminou morando em Salvador. África era o lugar onde ele desejava morar, pois foi no continente negro onde teve as experiências mais marcantes, as quais criaram no seu ser aventureiro uma ligação inseparável. Mas o destino é quem reparte os baralhos, e um trabalho mudaria seus planos. Através da organização Claude Lévi-Strauss, ele foi contratado para fazer parte do grupo que investiria em pesquisas dos índios da selva brasileira. Estevan Benitez quem nos apresenta um a um os personagens que vão aparecendo, também é estrangeiro e residente na cosmopolita capital da Bahia há décadas, igual ao seu amigo sueco. Ambos são apaixonados pela cidade que os acolheu. Os personagens, tanto homens quanto mulheres também tomam as rédeas do romance transformando-se em narradores. Estevan quer se contagiar das vivencias de seu amigo mais velho fazendo com que ele relate fatos acontecidos pelo mundo. Pouco a pouco Estevan começará a perceber que Lazaro, um homem preocupado pelo meio ambiente, como pelas tribos nativas da Amazônia as quais ele mesmo visitou e filmou, sofre ainda persecução no seu país. Ele guardava muito material, muitos filmes, muitas verdades que deveriam ser ocultas. Países comunistas como Cuba no qual ele possuía um sem numero de arquivos foram confiscados na casa onde ele os escondia na Suécia. Filmes e anotações de tragédias radioativas: Fukushima, Chernobyl e Goiânia à que ele mesmo ingressou com suas câmeras o mais perto possível ficando cara a cara com a morte. Em todas essas verdades haviam coisas que não deveriam sair algum dia à luz. Estevan Benitez, um apaixonado pela vida, um homem maduro, quer exorcizar sua solidão perscrutando a vida de seus amigos que possuem um longo currículo de feitos interessantes para ele. Sua companheira o abandonou para ficar com outra mulher. Na procura de afastar essa dor, pensa que já se acha numa idade tardia para voltar a se apaixonar, tem medo, não quer sentir seu coração ser destroçado novamente. Percorre a cidade admirando-a como sempre o fazia com sua querida Marisa, e percebe em cada lugar, em cada rua, sua presença, seu cheiro, cada espaço onde viveram momentos felizes, mas agora sem seu timão e âncora, se sente sem rumo e procura se acostumar a viver sozinho. Conhece belas e interessantes mulheres as quais sempre acabam se afastando dele. Sua vida não foi fácil, vivenciou momentos dramáticos para abrir-se caminho na sociedade, os lembra e os relata. Só sua experiência, seus sofrimentos passados e superados podem ser aliados para ele se equilibrar. A Bahia como uma porção da África alberga mistérios os quais o narrador adentra neles quase sem saber.