Review: "O FUTURO DAS NOSSAS FILHAS"

Falando do futuro da sua prole, dizia um jurisconsulto eminente:“Quanto aos filhos a coisa não é grave: mas tira-me o sono a ideia de que, quando morrer, só posso deixar para as minhas filhas uma conta corrente no Banco.”Sobre o mesmo assunto acrescenta um distinto educador:“Com o decorrer dos anos, a experiência da vida ensina às mães que a felicidade das suas filhas não consiste na fortuna material, e que é até muito arriscado confiar em dotes ou nas probabilidades de um casamento vantajoso.”Ninguém está absolutamente livre de reveses de fortuna, a não ser que em si mesmo encontre aquilo que o torne capaz de dominar as circunstâncias. O milionário de hoje pode ser o mendigo de amanhã. Quem não for capaz de conseguir um modo de vida com a inteligência ou com os braços, ficará sempre à mercê das circunstâncias, e é uma verdadeira crueldade da parte dos pais criarem os filhos, e mais particularmente as filhas, de modo que eles se vejam desamparados, quando um revés de fortuna lhes arranca os bens materiais em que puseram toda a sua confiança.Pensemos nessa infinidade de negociantes e diplomados universitários que, por falta de saúde, deslealdades de sócios e outras contrariedades imprevistas, perderam nos seus negócios ou fracassaram na sua profissão. Pensemos consequentemente nos milhares de órfãos e viúvas reduzidas aos seus próprios recursos, que de repente se veem na necessidade de ganhar a vida pessoalmente e de sustentar os seus filhinhos incapazes de a ganharem, sem terem recebido um ensino apropriado para enfrentarem tão espantosa eventualidade.Todos temos presentes tragédias domésticas desta índole, porque ocorrem todos os dias, e as suas vítimas são mulheres que não receberam preparação para se saírem bem das adversidades da vida.Raro é hoje o jovem que, mesmo nas famílias opulentas, não recebe uma educação mais ou menos cuidada, mas sempre destinada ao exercício de uma carreira universitária, de uma profissão liberal ou artística que no dia de amanhã lhe proporcione honrados meios de vida; mas a imensa maioria das famílias educam as moças como se a única finalidade na vida social tivesse de ser o embelezamento vivo nos salões e o constituírem a saborosa isca do anzol matrimonial. Ensina-se-lhes música, pintura, bordados, dança, boas maneiras, modos de conviver, de fazer visitas, de vestir com elegância e, numa palavra, de agradar pela sua amena frivolidade, pelo seu encanto pessoal e pela superficial aparência, que muitas vezes disfarça, com requintes de urbanidade, as dores da alma. Enquanto se ensinam os varões a serem úteis, predispõem-se imprudentemente as meninas a serem inúteis; e, ainda que nestes últimos anos se tenham aberto à mulher novas ocupações, temos, todavia, milhares de senhoras sem outra preparação para a vida que não sejam as probabilidades, cada vez mais limitadas, de um matrimônio.O duque de Kent, pai da defunta rainha Vitória de Inglaterra, morreu quando a sua filha tinha apenas oito meses de idade. A câmara popular do Parlamento britânico nomeou uma comissão para ir dar pêsames à viúva que os comissionados foram encontrar com a menina nos braços. Ao apresentar-lhes a criança como sua futura soberana, a duquesa assegurou-lhes que estava firmemente resolvida a dedicar todas as suas energias a preparar a menina para a altíssima posição que estava destinada a ocupar.O fim daquela mãe era inspirar nobres aspirações à sua filha, saturar-lhe a mente com a ideia de que devia viver para o elevado propósito de corresponder precisamente àquilo que dela esperava a nação inglesa. Quando a jovem Vitória chegou à puberdade e foi alvo de demonstrações públicas de carinho, sua mãe lhe disse: “O país não vê a tua pessoa, mas a dignidade do teu cargo. Deves proceder de forma que estas aprovações jamais se transformem em maldições.”Leia mais