Review: "Novas Confissões da Bahia: Documentos da Segunda Visitação do Santo Ofício ao Brasil (século XVII)"

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Recomendo o livro "Novas Confissões da Bahia: Documentos da Segunda Visitação do Santo Ofício ao Brasil (século XVII)" de Antonio Fontoura a todos aqueles interessados na história da Bahia e do Brasil. O livro é uma importante fonte de informações sobre a segunda visitação do Santo Ofício ao Brasil, que aconteceu durante o século XVII. A obra contém documentos inéditos e raros, que foram coletados e analisados por Antonio Fontoura, que é historiador e professor emérito da Universidade Federal da Bahia.

Fontoura nos oferece uma visão interessante do Brasil durante o século XVII. Ele traz documentos que discutem o ativismo da igreja católica na época, bem como questões mais sutis, como a relação entre a cultura luso-brasileira e a cultura indígena e africana. Estes documentos fornecem uma base sólida para compreendermos melhor como a igreja e a sociedade brasileira se interagiam na época.

A obra também discute a história da Bahia durante o século XVII, abordando temas como a colonização, a escravidão, a resistência indígena e a luta contra a inquisição. Por meio desses documentos, Fontoura nos dá uma visão única sobre como o Brasil se desenvolveu nessa época e o que o impulsionou a se tornar o que é hoje.

Este livro é um grande tesouro para todos aqueles interessados em História. É uma referência essencial para qualquer pesquisador interessado na história da Bahia e do Brasil no século XVII. É também uma boa leitura para quem deseja conhecer mais sobre a história do país e o seu desenvolvimento ao longo dos séculos. Por fim, como uma obra de grande valor histórico, é uma leitura obrigatória para quem deseja conhecer melhor o passado e o presente do Brasil.

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Em 1618, a Inquisição voltava a Salvador em busca de todos aqueles que, de alguma forma, fossem “culpados em erros contra a santa fé Católica”. O Inquisidor visitador Marcos Teixeira encontrara uma cidade muito diferente daquela que se deixa transparecer pelos arquivos da primeira visitação, de 1591: síntese do próprio processo colonial, aumenta-se a população portuguesa, quase desaparecem as referências aos indígenas, a presença da escravidão negra se torna constante.
O número de imigrantes portugueses, oriundos de diferentes partes do Império parece ser muito maior que a população nativa, demonstrando a alta rotatividade populacional do primeiro século de colonização do Brasil. São poucos os que, como Paulo Nunes, diziam que “nunca saíra desta terra” e que dela eram naturais. A grande maioria, especialmente sapateiros, pedreiros, correeiros, alfaiates, lavradores de cana, vêm do reino ou das Ilha da Madeira e de São Miguel, além de holandeses, espanhóis e mesmo marroquinos, formando o quadro de uma população colonial heterogênea, fundada claramente na realidade do açúcar e dos engenhos.
Os africanos escravizados, “Negros da Guiné”, aliás, cada vez mais fazem parte da realidade cotidiana. O senhor de quatro engenhos Pero Garcia, por exemplo, revelou em sua confissão que uma epidemia de varíola havia matado “mais de duzentos e quarenta escravos”, lamentando sua perda econômica. Traziam, além do trabalho forçado, sua cultura religiosa, que rapidamente se mesclava às crenças locais: em sua confissão, Pero de Moura “desconfiado dos médicos”, como afirma, “mandara chamar um Negro de São Thomé por nome Francisco Cucana […] o qual negro tinha fama de feiticeiro e estivera já preso no Aljube desta cidade por isso”.
Por sua vez os indígenas ainda eram parte fundamental do cotidiano de Salvador em 1591. A leitura das confissões da visitação daquele ano revela uma intensa intimidade de costumes entre colonizadores portugueses e indígenas, além de todo um ativo grupo de mestiços, que transitavam em ambas as culturas, realizando entradas de apresamento de indígenas muito semelhantes àquelas que tornariam famosos os paulistas. Por sua vez, nota-se em 1618 uma sociedade bastante ausente de indígenas: eles ainda participam da sociedade baiana, mas em menor proporção – como Inês e Juliana, testemunhas de um caso de sodomia do senhor de Engenhos Pero Garcia.
Por sua vez, a presença do “nefando pecado da sodomia” permanecia característica da sociedade da época: destaque para as confissões de Fernão Rodrigues – que revelou como o Governador Geral Diogo Botelho mantinha uma ativa rede de relacionamentos sexuais com outros homens da cidade –, assim como o próprio Pero Garcia: em sua confissão, o senhor de Engenho revelou que mantivera um relacionamento de tal forma estável com o mulato Jospeh, que este passou a ser conhecido por “manceba de seu senhor”.
Na realidade de Salvador de 1618 conflitos religiosos, principalmente envolvendo os da Nação, como passaram a ser chamados os cristãos-novos e os judeus (convertidos apenas nas aparências), tornavam difícil o clima cotidiano. Desde piadas aparentemente inofensivas, até atos efetivamente de ofensa à crença cristã (nas denunciações se revela que fezes humanas foram colocadas sobre uma figura de Jesus Cristo), eram perpassadas por uma realidade de vigilância mútua, fofocas, denúncias, desconfiança.
Essas confissões de 1618 nos apresentam uma sociedade viva, dinâmica, repleta de incoerências, de conflitos, de amizades e inimizades. Há muito pouco de ciclos econômicos, de exclusivo colonial, de sentidos da colonização nas páginas que seguem. Há os dramas que fazem humana a própria história. Sob o cinismo inquisitorial, próprio destes documentos, encontra-se o colorido que move a própria vida. Um colorido nem sempre alegre. Mas uma diversidade pulsante que, ao final, é o que forma a história em si.

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