Review: "LTI: a linguagem do Terceiro Reich"

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O livro “LTI: A Linguagem do Terceiro Reich” do autor Victor Klemperer é uma obra fascinante. Como um linguista alemão que sobreviveu ao Holocausto, Klemperer tem uma perspetiva única sobre a linguagem usada pelo regime de Hitler e seus seguidores. Ele examina a língua usada pelos líderes do Terceiro Reich e como esta foi usada para controlar e manipular o povo alemão. O autor fornece um insight único sobre a língua e a cultura daquela época.

Klemperer explora a linguagem e as táticas de propaganda usadas pelos nazis para persuadir o povo alemão a aceitar as suas ideias. Ele também analisa como essa linguagem foi usada para criar o ódio e o medo das minorias. A obra contém exemplos impressionantes da forma como os nazis usaram a língua para criar uma cultura de ódio e de controle. A leitura do livro deixa-nos a pensar nas implicações desta linguagem na sociedade actual.

A obra "LTI: A Linguagem do Terceiro Reich" é um livro extremamente interessante e instigante que oferece uma perspetiva ímpar sobre a língua usada pelo regime nazista. É uma leitura obrigatória para aqueles que estão interessados em conhecer melhor a história da Alemanha durante este período conturbado. Klemperer é extremamente detalhado na sua análise da língua e também fornece exemplos incríveis do uso desta. Devido à sua experiência como sobrevivente do Holocausto, ele tem uma perspetiva única sobre a língua e a cultura do Terceiro Reich. É uma leitura extremamente recomendável para qualquer pessoa que esteja interessada na história da Alemanha durante este período.

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“O homem que marchava à frente apertava os dedos da mão esquerda bem espalmada no quadril e inclinava o corpo para o mesmo lado, em busca de equilíbrio, apoiando-se nessa mão, enquanto o braço direito golpeava o ar com o bastão e a perna lançava a ponta da bota para o alto, como se tentasse alcançar o bastão. Pairava oblíquo no vazio, como um monumento sem pedestal, misteriosamente mantido ereto por uma convulsão que o esticava dos pés à cabeça. Não era um mero exercício, mas uma dança arcaica e uma marcha militar. O homem era, ao mesmo tempo, faquir e granadeiro. Na época, essa crispação e desarticulação convulsiva podia ser vista em esculturas expressionistas, mas na vida nua e crua, como ela é, no realismo da cidade, seu impacto me atingiu com a força de uma novidade absoluta. […] Foi a primeira vez que me defrontei com o fanatismo em formato especificamente nacional-socialista. Essa figura muda provocou meu primeiro embate com a linguagem do Terceiro Reich.”Victor Klemperer
* * *
Conhecemos análises sobre o nazismo. Lemos livros de história. Temos relatos de sobreviventes de campos de concentração. Vemos filmes sobre episódios da Segunda Guerra Mundial. Mas não sabemos como era o cotidiano nas cidades alemãs nessa época: a atmosfera que a sociedade respirava, o teor das conversas entre pessoas comuns, os tipos humanos, as esperanças e medos, os heroísmos anônimos, as pequenas covardias.
O filólogo Victor Klemperer registrou tudo isso. Judeu alemão assimilado, convertido ao protestantismo, sem militância política, assistiu com perplexidade ao que lhe parecia inverossímil: a ascensão da barbárie no coração da Europa. Perdeu a cidadania do país que amava, quando a doutrina racial tornou-se lei. Foi afastado da cátedra, das bibliotecas e do convívio normal com os demais. Teve a casa confiscada. Viu amigos e conhecidos aderirem ao regime que o discriminava.
Forçado a usar a estrela de Davi sobre a roupa, conheceu todas as humilhações. Escapou dos campos de concentração graças à mulher, Eva Klemperer, uma “ariana” que se recusou a abandoná-lo, acompanhando-o nas Judenhauser [casas de judeus] como fiadora da sua sobrevivência. Durante a guerra, Victor foi enviado como trabalhador manual para as fábricas carentes de mão de obra.
O desespero e a morte rondaram, durante anos, a vida dos dois. A vingança foi escrever um diário. Victor acordava às 3:30h da manhã para registrar tudo, clandestinamente. Eva contrabandeava as observações para a casa de uma amiga fiel. Elas descrevem, vistas de dentro, a ascensão do nazismo, a glória do regime, a adesão das massas, a onipresença de um poder totalitário, as perseguições, a guerra e, finalmente, a derrota. Mostram muitos aspectos desse processo, mas têm um fio condutor, o estudo da linguagem: “O nazismo se embrenhou na carne e no sangue das massas por meio de palavras, expressões ou frases, impostas pela repetição, milhares de vezes, e aceitas mecanicamente. […] Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e aparentam ser inofensivas; passado um tempo, o efeito do veneno se faz notar.”
O nazismo se consolidou quando dominou a linguagem, eis a tese do livro. O filólogo mostra como as palavras aparecem e desaparecem, mudam de sentido e de ênfase, se encadeiam de diversas formas, emitem mensagens diferentes ao longo do tempo. Vê, estarrecido, que até mesmo as vítimas usam a linguagem do Terceiro Reich. Percebe que o poder se exerce, em larga medida, por meio de mecanismos inconscientes: quem controla as maneiras como nos expressamos também controla as maneiras como pensamos.
Depois da guerra, Victor usou os diários para escrever este livro com um objetivo educacional, pois a linguagem nazista ainda predominava na Alemanha que tentava se afastar desse passado. Mas não é de um passado alemão que estamos falando, é de nós mesmos.
César Benjamin

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