Ler "Felicidade Clandestina", de Clarice Lispector, é uma experiência única para o leitor, e uma recomendação que faço com absoluta certeza. É um dos melhores livros que já li na vida e não me canso de relembrar os momentos que passei lendo-o.
A obra retrata, de forma ímpar, a vida de Macabéa, uma jovem nordestina e pobre, que trabalha como datilógrafa. Ela enfrenta diversos desafios para sair da pobreza, como mudar de cidade, largar a família e buscar o sonho da realização pessoal. A maneira como Clarice narra a história de Macabéa é incrível, pois ela consegue capturar a voz interior da protagonista e, mesmo que a narrativa seja triste, é possível sentir a esperança de que Macabéa possa, um dia, encontrar uma felicidade que não é visível aos olhos.
Ler "Felicidade Clandestina" é uma experiência ímpar, pois nos permite mergulhar na vida de Macabéa e nos ajuda a refletir sobre as nossas próprias experiências. A narrativa de Clarice nos convida a pensar sobre como nossas vidas podem ser diferentes daquelas que não são privilegiadas e nos ajuda a entender como é possível encontrar felicidade mesmo nos momentos mais difíceis.
Portanto, recomendo que, se você tiver a oportunidade, leia "Felicidade Clandestina". É um livro incrível, cheio de emoção e com uma narrativa única, que nos ajuda a entender o que é a felicidade e nos lembra de que precisamos lutar para encontrá-la mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
Desde o início, Clarice Lispector recusou a escravidão dos gêneros. Escrevia por fragmentos que depois montava. Escrevia aos arrancos, transcrevendo um ditado interior. As estruturas clássicas não faziam parte desse ditado. Seu olhar passava por cima das regras, quase voraz em sua busca da essência.
Este livro bem o demonstra. É composto por contos escritos em épocas diversas da vida de Clarice. E por não contos. Muitos deles – como “Felicidade clandestina”, que dá título ao livro – foram publicados no Caderno B do Jornal do Brasil. Como crônicas. Que também não eram crônicas.
Convidada em 1967 para escrever no JB, Clarice deparou-se com um fazer literário novo. Logo negou os padrões vigentes: “Vamos falar a verdade: isto aqui não é crônica coisa nenhuma. Isto é apenas. Não entra em gêneros. Gêneros não me interessam mais.”
E “isto” era a mais pura e rica literatura. Nos contos / crônicas / textos – que eu, como subeditora do Caderno recebia semanalmente, Clarice se expunha em recordações familiares e de infância. Sua irmã Tania ainda se lembra da menina, filha de livreiro, que encontramos em “Felicidade clandestina”, atormentando Clarice por conta do empréstimo de um livro. O professor de “Os desastres de Sofia” realmente percebeu o tesouro que Clarice menina escondia. E “Come, meu filho” é um claro diálogo entre a autora e seu filho.
Nada diferencia esses contos, escritos para serem crônicas, de outros contos que aqui estão, escritos para serem contos e publicados anteriormente no livro A legião estrangeira. Seus textos podem ser desmontados, desfeitos em pedaços – até mesmo diferentes dos fragmentos originais – sem que se perca sua intensidade. Cada palavra ou frase dessa escritora sem igual origina-se em camadas tão fundas do ser, que traz consigo, mais do que um testemunho, a própria voltagem da vida.
— MARINA COLASANTI, Jornalista e escritora. Prêmio Jabuti para Eu sei, mas não devia e Rota de colisão.
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Autor: Clarice Lispector
