Espessura da Noite

Advogado arruinado e alcoólatra encontra mulher linda e misteriosa, extravagante, com quem tem um caso e passa a conviver. Não sem passar por uma série de situações difíceis a que é conduzido pelas extravagâncias de sua companheira, que, determinada a se tornar muito rica, e vendo nele o caminho para a realização de seus planos, o expõe a todo tipo de situações. Compreendendo que nada obteria da associação com um advogado mais interessado em bebida do que em desenvolver um caminho para uma possível recuperação econômica, ela decide seguir o seu próprio caminho e o abandona. Resignado à ausência da companheira, ele vai cavando a vida um tanto irregularmente até um dia se deparar, numa banca de jornais, com a foto dela num “matutino desses” especializado em crimes violentos, tão rotineiros na cidade do Rio de Janeiro do final do século 20. Devido à beleza dela que “ainda se mantinha intacta mesmo depois do seu violento assassinato, muito bem estampada na primeira página do jornal, ela continuava atraindo uma grande e masculina curiosidade, responsável pelo ajuntamento de homens àquela hora da manhã em volta da banca, assim como pela maior circulação do diário naquele dia”. Chocado com aquela notícia, ele resolve investigar o que teria acontecido, uma espécie – digamos assim – de resgate da memória da antiga beldade de cuja morte ele compartilha parte da culpa, o que o leva a trilhar um caminho perigoso e, ao mesmo tempo, cheio de personagens tão extravagantes como sua antiga companheira. Ele é levado a pedir ajuda do Carlão, detetive de polícia conhecido dele das rodas dos bares, que lhe dá algumas pistas ao mesmo tempo que o previne contra a temeridade de sua empresa, descrevendo com minúcias e realismo a crueldade e as violências gratuitas que encontraria, caso teimasse em seguir em frente naquele projeto perigoso. As marcas do assassinato na antiga companheira denunciavam claramente com que tipo de gente ele haveria de lidar e esse tipo de gente só sabe resolver as diferenças entre eles à bala, como todo mundo sabe. E estamos em 1989, ano em que haveria a primeira eleição presidencial no país, após mais de vinte anos de ditadura. E os acontecimentos se sucedem ao meio do clima festivo da cidade. De qualquer maneira, ele já não pode voltar atrás, principalmente porque já não consegue diferenciar o que é real do que não passa de delírios alcoólicos. Sem saber como, ele vai penetrando cada vez mais fundo numa rede de intrigas que, para deslindar, acaba se deparando com uma verdade além do que podia esperar, e agora sim, precisa contar com a sorte para não terminar como a companheira.