Review: "Assombrações Caipiras"

Um dos romances premiados pela edição 2008/2009 do Proac (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, “Assombrações Caipiras” parte de entrevistas com pessoas da terceira idade para resgatar personagens e episódios misteriosos do passado “caipira”. Entre eles, tesouros enterrados, almas penadas, visões sobrenaturais, o lobisomem, o chupa-cabra e o controverso saci-pererê.Quando criança, quem não gostava de ouvir histórias de fantasmas? Numa época em que a modernidade ainda não havia exorcizado os velhos mitos e lendas, as assombrações reinavam na noite – especialmente no interior e nas áreas rurais. Mas o tempo passou, as crianças tornaram-se adultas e a magia perde cada vez mais seu poder.“Assombrações Caipiras” é um romance para estes adultos, que ainda guardam com carinho as velhas narrativas, mas já não têm a ingenuidade da infância. O livro mescla períodos históricos distintos, confrontando os saudosos medos do passado com os aterrorizantes males do presente, como o tráfico, o charlatanismo, a corrupção… E para unir essas realidades tão discrepantes, resgata um mito atemporal: a “lenda urbana” da “loira do banheiro”.Ao longo da produção do texto, o autor reuniu-se com diversas pessoas da terceira idade, gravando seus depoimentos e, posteriormente, transcrevendo-os e adaptando-os de maneira a compor não um apanhado de contos, mas um romance em que as histórias se encadeiam e os próprios entrevistados tornam-se protagonistas.O resultado é um livro de ficção, sem pretensões históricas, mas que busca, com bom humor, não apenas resgatar histórias do passado, mas valorizar quem as conhece.
ENREDOAparições inexplicadas de uma figura fantasmagórica acontecem nos banheiros de uma escola onde, à noite, funciona um supletivo para jovens. Um dos estudantes, que testemunha a manifestação sobrenatural, busca explicações junto ao avô, profundo conhecedor das histórias antigas da região “caipira” do Estado de São Paulo. Fica sabendo, então, que, no exato lugar da escola, antigamente, havia ocorrido o assassinato de um rico fazendeiro e, em seguida, a morte trágica de sua esposa. A fortuna da família – enterrada, como era costume no passado – jamais fora encontrada. Por conta disso, o rapaz conclui que o local deve guardar o antigo tesouro e que pode ficar rico, caso consiga desenterrá-lo.Enquanto busca descobrir o paradeiro do dinheiro – ou o que realmente se passa na escola -, o avô vai narrando as antigas histórias de assombração, adaptadas ao romance a partir das entrevistas realizadas com pessoas da terceira idade, as quais, em várias situações, figuram os causos como protagonistas ou coadjuvantes.
AUTORIvan Camargo, residente em Tatuí (SP), é jornalista, pós-graduado em comunicação social. Trabalha como editor do jornal “O Progresso de Tatuí”. Possui especialização em história da arte, adaptação de obras literárias para cinema e TV e roteiro para cinema.Em 2008, recebeu distinções por dois livros: foi vencedor do II Prêmio de Literatura UBE/Scortecci, com a peça teatral “O Cativeiro”, concurso em que também recebeu menção honrosa por “Onde Moram os Tatus”, romance que ainda obteve o terceiro lugar no prêmio de literatura da UBE-RJ, foi um dos vencedores do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo e fez parte da programação do 35o Salão Internacional de Humor de Piracicaba, ao lado de trabalhos de nomes consagrados das artes gráficas nacionais e internacionais, evento considerado o maior do mundo em seu gênero.