Review: "A CIÊNCIA DO FUTEBOL"

A responsabilidade de apresentar aos leitores o livro A ciência do futebol é no mínimo um ato irresponsável. Afinal, como é possível ao apresentador não se questionar sobre a temeridade de um livro tão, talvez, pretensioso? Sim, os autores, provavelmente, foram pretensiosamente ousados e ingênuos. Ousados pelo lançamento deste livro no país que durante seis décadas se autoproclamou como o país do futebol, onde boa parte da população é especializada na arte de falar sobre esse esporte. Ingênuos, dada a impossibilidade de esgotar o inesgotável que toda ciência é.Mas não existe uma apresentação possível sem o esforço da empatia da obra recém-nascida. Trata-se de um livro que pode ajudar a muitos da nação do futebol, a terem a chance de estarem mais preparados para assim aumentar mais a riqueza percebida do que é o futebol. Então, bendita seja a ousadia e ingenuidade destes autores.Das sutilezas rigorosas e pretensamente precisas da biomecânica aplicada ao jogo, onde os autores no primeiro capítulo, transitam da crítica à falta de rigor dela no mundo do esporte até as explicações das leis da física na rotação da bola durante um gol olímpico, eles conseguem fazer a biomecânica mais acessível dada a conceituação minuciosa e críticas coerentes a partir de exemplos pontuais.No segundo capítulo, os fundamentos fisiológicos como delimitadores da exaustão energética que implode a eficiência e beleza do jogo, que faz os melhores jogadores do mundo, de repente, se metamorfosearem de possíveis heróis a vilões de um colégio, de um bairro, de uma cidade, estado ou país diante do fracasso em um jogo. No Brasil, não existem perdões no futebol.No terceiro capítulo, os autores mostram as evidências da importância da velocidade e agilidade que quando bem temperadas fazem o que parecia impossível ser realidade explicitada no grito de gol. Ser veloz e ágil são condições necessárias, mas talvez, não suficientes, afinal, ambas precisam estar parametrizadas com precisão magistral em um jogo onde existem no mínimo 11 jogadores tentando impedir que um jogador seja veloz e mostre sua habilidade com a bola.No quarto capítulo é apresentada uma bela incursão sobre a infinita complexidade das estratégias de treinamento, uma clara evidência da impossibilidade do consenso sobre o tema. Estratégias, é óbvio, dependem de como os adversários se comportam, e neste sentido, os dados são jogados em cada lance do jogo.A iniciação esportiva no futebol é o objeto de reflexão do quinto capítulo, que nos obriga a oscilar entre a objetividade científica descrita e a iniciação no futebol que talvez venha do mundo secreto dos sonhos infantis.O sexto capítulo, reflete sobre os aspectos socioantropológicos e a ancestralidade do proto-futebol no Oriente e na América pré-colombiana. Do futebol vulgar e restrito aos operários ingleses no século XVII até sua apropriação pelos meios de comunicação e pelos homens de negócio.Vê-se que estamos diante de um livro que ousa e que certamente trará algum novo conhecimento ao mais especializado profissional.Boa leitura a todos!Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela JuniorCampinas, SP, 28 de outubro de 2021.Leia mais